Crise, que Crise?

Se há uma crise no mundo

Que tem meu coração com isso?

Se o buraco que dizem é fundo,

Se perderam-se compromissos,

Se empresas viraram balelas,

Que tenho eu com elas?

Que maldita hora pro mundo parar!

Logo agora que eu queria aproveitar...

Que imbecis esses especuladores

Não sabem nada belo da vida,

Flertando sempre com dissabores,

Não buscam nem a beleza da partida,

Nem o calor e prazer dos amores.

É só a ambição de ganhar?

Tanto e não ter que aproveitar

É o vício de conquistar o mundo?

Sem nem ao menos vê-lo, contudo?

Que raiva me dão esses caras!

Transformando o nada em dinheiro

E, num movimento de tamanha graça

Pegam esse mesmo dinheiro

E o transformam de novo em fumaça.

E eu aqui assistindo, a dança especulativa

Primeiras-damas lutando num ringue de lama

Até da luta, apenas uma sair viva...

Veremos qual delas a vitória proclama.

E os presidentes fumando charutos,

Uns educados, outros incultos

Todos malandros, velhos prostitutos

Trocando sorrisos, e belos insultos.

Enquanto isso, fico eu no suspense

Enquanto eles riem, eu aqui suando

Mais que eu tema, ou que eu pense

Acho que é serio, eles estão nos zoando.

No fim, quem vai pagar esse mico sou eu

Quarenta por cento de tudo que eu faço

Ou vira crédito pra conta do Abreu,

Ou pior ainda, pra do Luis Inácio.