Vida no Vale do Jequitinhonha

Há tantas histórias bisonhas

na aridez do vale do Jequitinhonha

que avulta nas faces a clemência.

Cotidianamente sob a sequidão

que castiga aquele chão

há um mar de volumosas indecências.

Há tempos o Estado Democrático,

de lá, levantou acampamento;

aliás, uma única vez, com o Fantástico,

o poder quase constituído se fez presente.

Embaixo da terra exsicada

há um número sem conta

de pedras preciosas:

turmalinas, esmeraldas, rubis

e quilogramas de diamantes

que alguns poucos detêm a propriedade.

Mas nos gerais e nas cidades

o cabresto dos coronéis politicantes

ainda manipula o presente e o porvir

daquela gente miúda e garbosa

e rouba-lhe a esperança que desponta

rala, fina e fraca tal chuva na chapada.

No vale

do Jequitinhonha,vale

pouco, nada quase vale

o trabalho árduo por dia.

Tem escassa valia

o infindável labuto

do corajoso matuto

por recôncavos escuros,

úmidos, asfixiantes e inseguros.

O ar é rarefeito,

nulos são os direitos

e quase sem efeito

o seu questionamento;

senão o de antecipar a demissão arbitrária.

No vale, a vida privada

é diuturnamente pública,

é corrupta a política

e a força instituída estúpida,

sem contar que as garantias, na verdade,

oscilam consoante a afeição partidária.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 27/03/2006
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