RAVINA MARMORIAL

RAVINA MARMORIAL

A fragrância de vianda putrefada

Parece que o tecido cândido do barranco urbano estampa,

Pois tão-somente o que os olfatos sentem

É a rijeza, a aspereza, a acrimônia

Da centelha do perpétuo breu lancinativo

Exalar o amargo inane sangüineo aroma.

Eu, imerso em oceanos ou pênsil em píncaros

Das montanhas onde fluem os lençóis freáticos dos meus pensamentos,

Tento mensurar a dor que emana

Desta tétrica plaga em chagas aberta, pradaria de brados e dramas;

E não consigo fazê-lo:

Porque dolências como esta

Não se medem apenas

Com gestos, reflexões, palavras de panegíricos, apologias, epicédios,

Lamentos;

Porque, na verdade, dolências como esta,

Em que a indomável ressonância é soçobrada e expira

Ao chegar ao castelo do vilipêndio,

São infinitas hemorragias do amor,

Que acaba por convergir ao estendal da raiva:

Onde cintila imponente apenas o ardente rancor;

E então, testemunhamos uma atroz alquimia:

O altruísmo comutado em gêiseres da vilania.

Afinal o ledo e jocoso vale de congostas obliquas

Lobregamente em nascedouro de girassóis desvanecidos se transmuda:

Pois, em compactas e cilindricamente ovais câmaras de fogo,

Jaz o mármore do crepúsculo imisericordioso.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA