Trabalhadores do Meu Brasil

Sonhei que o dia chegava

E tudo vinha mais fácil

Era o destino que me pagava

E ainda breve esperava

A minha vida tão dura

Tão suada e sacudida

Essa vida bandida

De quem trabalha sem futuro

De quem perde a saúde na lida

De quem dá todo dia duro

Sem saber de sua guarida

Sonhei que a noite chegava

E o descanso me bastava

E a dor, essa não tinha

E que a nega me sustinha

E os filhos me chamavam

E eu ria com eles na sala

E a coisa toda ia bem

E não devia nada a ninguém

Mas a vida não é assim

Não tem tanto pra mim

Não tem razão pra gemer

Mas não tem razão para rir

Só tem razão pra viver

Sonhei que o domingo chegava

E o som de passarinho cantando

E o barulhinho do café passando

Me dava um pouco de alento

Mas no meu tanto de sofrimento

É um domingo que passa

É mais um dia que vai

É uma vida quebrada

Que nem a pedra da vidraça

Da janela de meu pai

Que um dia eu quebrei

E que apanhei e chorei

E aprendi a ser homem

E a carregar meu nome

Com respeito e tristeza

Porque se o respeito existe

Existe mais a pobreza

E dessa, eu sei bem...

Nela eu vivo, me agüento

Trabalhando como jumento

Não importando qual empresa

Até o dia que cairei de cansado

Se vou morrer de repente

Ou se com a mulher do meu lado

Ou com os meninos em volta

Só Deus quem sabe, e Nossa Senhora

O dia certo e a minha hora

E o lugar que eu vou quando for embora.