A humanidade em crise

São quase mil séculos,

Milhões de irrequietos anos

De diária e árdua luta.

Epopéia antagônica de tiranos:

Em princípio, uma massa ”bruta”.

Hoje, “civilizada”, beligerante e esdrúxula.

Os governos, ditos soberanos,

Afugentam, ímpetos;

Coriscantes e profanos;

Se legislam, todavia, há veto.

Não se revoga, e se há falas,

Cala-se a voz à bala

Ou o retumbante brado

Do poder oligárquico

Que esparge na sua língua estúpida.

Massa de manobra,

Coisificada, a multidão sedenta:

Quede os sonhos de outrora?

E os hodiernos? Suspensos,

Pois que o soberano os ignora.

Como o inocente sonho de menina,

Todo e qualquer anseio perdura

O tempo apenas de expirar.

Apesar da avançada idade,

A humanidade em nada muda.

Há uma colisão de ideais

E uma xenofobia entre as culturas

Impressas em papéis pobres

De podres jornais

Impregnados de analfabetismo na leitura.

Por miséria dos povos, ou descaso?

Suplantados num antiqüíssimo vaso

De porcelana da China,

Jogados à primeira esquina.

E o corpo mercanciado das meninas,

De olhos verdes e aguçantes bustos,

Já sem tanta incauta candura.

Outras se tornam freiras

Por falta de opção,

Ou será vocação?

Tantas damas de estação,

Feitoras de programas,

Vulgarmente, putas.

Descuido ou culpa

Da vida, segundo elas, bruta?

Prazer programado,

Longe de casa, sem euforia,

Nos virtuais embalos

Das noites tardias

Excedendo os horários

Além das luas dos modernos dias.

A elite hereditária

Dita as cartesianas regras

Aqui e em toda a terra

Deste mundo grande.

E em páginas densas

A insipiência se expande.

E atrita com a falta imensa

De pessoa que seja gente.

Alguém que exerça a simplicidade soberana.

Pessoa dotada de emoção e consciente;

Alguém que tenha a vida propensa

A compartilhar das vibrações humanas.

Pessoa que careça

D’outra distinta metade

E que use a cabeça

E fale sério quando preciso

Mas que, em certos momentos, pareça

Fora da convencional linha de juízo.

Um ser que pensa

E que ama

E que tem na vida

Antiga ou moderna

Gestos que soem como poemas.

Pessoa que não tenha

Medo de mergulhar

Nas marés imprevisíveis

Do grande mar

E que para voar

Invente longas asas.

Pessoa que simplesmente

No vôo para casa

Carregue consigo uma larga

Vontade e louca

De compartilhar o presente

E de beijar na boca.

Cid Rodrigues Rubelita
Enviado por Cid Rodrigues Rubelita em 12/04/2006
Código do texto: T138024