CIDADANIA(?)

CIDADANIA (?)

O sêmen da pressa dança no útero urbano

Duma cidade que açoita os dorsos, com o frio das manhãs,

O coração das ruas pulsa com exasperação

Para que as pessoas possam se resvalar em seios de pedra.

Os homens e as mulheres bailam no ventre urbano,

Engravidando o PIB das nações,

Enquanto o suor evapora-se no asfalto.

As pessoas cumprem seus deveres, às duras penas:

Amanhecem nos quintais junto aos refluxos do relógio,

As pessoas adoecem, ainda assim, tecem o dia-a-dia,

Rezando a saúde dum futuro incógnito.

No entanto, eis a serpente humana nas fileiras da espera,

Eis os enfermos nutrindo seus males na contingência dos leitos,

Eis os Professores atônitos e alunos ausentes em si mesmos.

Os lobos públicos vestem a fina lã das ovelhas

Enquanto aspiram cadeiras de gabinete,

Mas seus dentes de sabre rasgam a carne

Das pessoas de bem e depois arrotam seus votos.

Os que esculpem essa metrópole com argamassa e sangue

Afagam os impostos como cacho de espinhos

Para depois beberem a lágrima compulsiva das cidades.

Fundem-se num só corpo mestiço,

Contorcidos na teia repleta de excessos

E se olham e se falam e se calam

Diante da indignação que excede os sonhos.

As pessoas são sangue, vias são veias,

Os traçados do asfalto desenham os esqueletos sinuosos,

A lua da cidade é ave noturna anônima no vôo.

O direito dos homens está de plantão no bocejo da noite,

O dever está atado em mãos farpadas da injustiça,

Por isso os galos invisíveis solfejam no alvorecer,

A cidadania agonizada no sofisma de seus governantes.

Delmo Biuford
Enviado por Delmo Biuford em 22/01/2009
Código do texto: T1399115