DESTEMPERO
Como é gostoso, doutor,
A água descer do céu
Molhando cada chapéu
Escorregando no rosto
Cada varão tendo o gosto
De ser um agricultor!
Ah! Que gostoso é ver
Na folha verde do milho
A certeza de fartura
O sustento do meu filho
De alimento, de cultura
E a esperança de viver.
Arroz, batata, feijão...
Quão gostoso de se olhar
No vento a tremular
A copa da plantação
E a chuva cair do céu
Molhando cada chapéu.
Mas doutor, quando não chove
Gosto nem de comentar
Dói barriga, dói cabeça
Sequidão é de amargar
O jeito é ir pra favela
O senhor não se comove?
Já agora, Excelência
Que governa todos nós,
Afinou mais meu pescoço
De tanto gritar por vós...
Mande aqui cavarem poço
Tome essa providência!
Se a chuva não vem de cima
De baixo é que pode vir;
Ajudará, nesse clima
A plantação produzir
E feliz, minha família
Não precisará fugir.
Senhor lá e nós por cá
Sem ninguém se comprimir
O senhor no seu governo
Governando sem mentir
E não inventarei rima
Que venha ao senhor ferir.
Mas doutor, preste atenção
Ao que por fim vou dizer
Cave poço, dê um jeito
Pois precisamos beber
Do contrário, me asseguro:
O senhor quer nos ...