Sangria

Cidade perdida, injusta...

Lá existe uma rua sombria.

Habitam pessoas sem nome,

sem sorte, paixão ou alegria.

O rumo da vida se perde

na rota da morte que surge.

São crimes, são fatos, manchetes,

notícias banais todo dia.

Janelas, cortinas rasgadas;

Nas portas trancadas, silêncio.

Facadas, famílias feridas;

Mais outra brutal covardia

Nos muros, buracos de balas;

no chão, marcas, gotas de sangue.

São lágrimas, dores sem cura.

São dores que eu não conhecia.

Em valas comuns, inocentes,

culpados, ladrões, indigentes.

E, no ar, podridão virulenta,

licor com sabor de sangria.

Nas casas imersas em luto,

há pais e filhos que choram.

Num quarto, lembranças, retratos

E mais uma cama vazia.

Por que violência e angústia?

Por que tanta dor e agonia?

Prostrado, restou-me um alívio:

rezar cinco vezes por dia.