COMPANHEIROS DE INFORTÚNIO

Pássaro voando de galho em galho,
trêmulo,
arrepiado,
um pouco parecido com você e sua velha
roupa rasgada.
Voa por voar!
Ainda tem esperanças de viver...

Menino perambula de rua em rua,
tiritando,
agoniado,
um pouco parecido com você pela aparência humana.
Anda por andar!
Ainda tem esperanças de amor...

De manhã vi os dois.
O pássaro num galho lá no beco.
O menino numa ruela no mesmo subúrbio.
Do pássaro recolhi uma peninha perdida
embaixo do arbusto
do menino uma lágrima caída na poeira da rua.

Convidei-os.
Vieram.
Estão lá em casa.
O pássaro comeu alpiste
e o menino uma sopa ao almoço.

Despedi-los?...
Você seria capaz?
Comprometi-me ao acolhê-los.
Cativei-os.
Adotei-os.

Poucas posses são as minhas posses,
mas as repartirei com eles.
O pássaro estará comigo quando desejar voar a
poéticas alturas...
e o menino me acompanhará quando a jornada é
peregrinar pelas reais estradas da vida...