Crianças de rua

Eu sinto fome, mas não é em mim que ela grita;

Eu sinto sede, mas não é em mim a agonia.

Eu sinto frio, mas não é meu corpo que estremece,

Estou sem abrigo, mas não são meus olhos que o pedem.

Quero um colo, mas não são meus braços que se oferecem,

Estou embriagada de dor, mas não são meus os passos trôpegos,

Clamo socorro, mas não é da minha garganta que mina os gritos.

As lágrimas rolam impiedosamente, mas não são meus os olhos úmidos.

Estou pedindo uns trocados, mas não são meus os punhos,

Estou sendo violentada, mas não é minha a carne que arde,

Estou gerando vidas, mas não é meu o corpo que se avoluma,

Estendo as mãos por esmolas, mas não é a mim a recusa.

São as crianças que declaramos como futuro,

São as crianças que desconhecemos os nomes,

São as crianças sob os viadutos,

São as crianças nas calçadas geladas...

São elas que materializam esse absurdo,

São elas esquecidas e ignoradas,

São elas que sofrem abusos,

São as crianças que serão os nossos adultos.

Estou nelas, você também está...

É a sociedade que amarga esse estupro...

Princesa Lara
Enviado por Princesa Lara em 20/03/2009
Código do texto: T1497221
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.