CRIANÇAS DO BRASIL

Aquele que te vê passar

Sujo, maltrapilho

Retirando do lixo seu pão de cada dia

Não imagina teus sonhos

Tuas histórias, teus heróis.

Aquele que fecha os vidros

Que vira a cara de nojo

Que tampa o nariz quando passa

Não te pergunta como conseguiu se ferir

A história das tuas cicatrizes.

Aquele que te vê humilhado

Olhos baixos, mãos esticadas a esmolar

Não percebe a dor de se sentir inferior.

Aquele que te vê na TV

Nas esquinas, nos sinais

Nos arrastões

Não sabe teu nome, tua idade

Quem são teus pais

(será que tu sabes?).

Aquele que vê em ti

Apenas um número, uma estatística

Não te vê como um filho roubado

Ou fruto de um amor abandonado

Ou de um lar desajustado

Não te imagina soltando pipa

Rodando pião, jogando bola

Não se aproxima de ti

Pois não consegue te ver, não te enxerga

Olha para ti e imagina teu futuro marginal

Ladrões, estupradores, prostitutas

E esquece de te ver

Como realmente é

Apenas uma criança.