PÁSCOA, DO OUTRO LADO DA RUA

Na cama da insônia

Perdido em devaneios mundanos,

Carneiros magérrimos me deixam de olhos secos

Perante as atrocidades que assolam, sem compaixão

Crianças sem pátria.

As cortinas dos meus olhos lacram-se abertas

Perante tanta insanidade morando em meus pensamentos

Serei também um verme desse inferno capitalista que impera na terra?

Rolo na cama, carneiros continuam a passar, aos milhões

Chorando de fome, não me deixam dormir

Anseio por ar

Levanto-me e abro a janela

Uma amargura azeda toma conta de mim ao ver

Do outro lado da rua, meninos e meninas

Dormindo no breu das calçadas

Sem um cobertor de carinhos, sem o beijo de boa noite.

Como quem pressente o ausente

Uma criança sai de baixo dos lençóis de jornais

Acena-me sorrindo, e eu...

Engulo um lamento seco

Como juiz, me condeno a mim

Em meu cárcere privado (minha casa)

Por trás das grades da janela, dei-me um castigo:

Velar as crianças perdidas (pelo menos por aquela noite)

Filhos bastardos da mãe-Pátria Brasil

Era Páscoa

Nunca desembrulhei os ovos

Enquanto outros continuam gerando “crianças”

Que são adotadas pelas calçadas do mundo

Rogai por eles.

Gilnei Poeta
Enviado por Gilnei Poeta em 09/04/2009
Código do texto: T1530507
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