Abrigo antinuclear

Eu havia dito,

eu havia falado tantas vezes

e ninguém me dera atenção.

Agora resta-nos a tétrica ressonância

de um trovão devastador...

o sinistro tremular das paredes,

uma atordoante cintilância

como triste e distante lembrança

da extinta civilização.

É o fim.

Apenas nós dois no mundo

e as baratas.

É o fim.

ABRACE-ME, PELO AMOR DE DEUS!

Abrace-me, se ainda tiver força para isso!...

Debaixo desta luz maquinal e opressiva,

pontuada por intervalos de escuridão,

eu gostaria de reconhecer você

como um símbolo

de tudo que nunca tive

e jamais terei...

Não, não tire de mim a fantasia

de que posso encontrar

dentro de você o céu azul

que, me contaram, teria existido

num tempo distante;

dentro de você,

o paraíso perdido das antigas lendas...

Não, não se desmanche em meus braços,

não desapareça entre a confusão dos sentidos,

continue real

minha última e única fantasia...

É o fim.

Apenas eu...

e as baratas.