Cego, Surdo e Mudo
 
Sentindo uma estranha culpa,
mas não querendo,
de forma alguma, comprometer-se.
Mesmo que houvesse algo a ser dito,
melhor seria manter as palavras guardadas.
O que importava era garantir
a sobrevivência a qualquer custo.
Mesmo tendo a noção
de que a vida teria inevitavelmente um fim.
Terrível lembrete da consciência,
mas isto seria coisa para o futuro,
o essencial era tirar
todo o proveito possível do presente,
oportunidade não é toda hora.
Mais a mais,
a felicidade parece ser guiada
pela arte das conveniências. 
Basta a saúde,
mesmo que depauperada,
a todo custo manter-se vivo.
Que os músculos repousem
tranqüilos sobre os ossos,
que o cérebro seja arejado.
Que mude-se o nome
da preguiça para resignação,
ao menos fica mais nobre.
Além do que,
pensar muito pode levar à tristeza
e, como se sabe, o bom é ser feliz.
Nem mesmo se alegue
a possibilidade de manipulação,
pois quem assim o faz
não conhece a arte da conivência.
De forma que não pensemos em bobagens,
ocupemos o tempo com bom lazer,
pois que preocupações envelhecem
antes do tempo e a vida é curta.
Concluindo numa quase filosofia,
que se a ignorância é natural,
a alienação é uma opção.
Sejamos, todos,
tão felizes quanto alienados,
com a inteligência de abóbora,
com a atitude de uma avestruz:
basta um buraco,
para enfiar a cabeça.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 31/05/2009
Reeditado em 25/08/2009
Código do texto: T1625474
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