TERRA SECA
Nosso mundo transbordou,
de exaustão saturou,
e os rios ficaram turvos,
e os animais vivem isolados.
A terra seca já não produz ervas
- a estiagem assola o campo.
O colono chora ao lado do bezerro
que de fome definhou-se no sem-pasto.
O azul do sertão é escaldante,
o sol arrasa a pele, as lágrimas, a alma.
Não tem mais repentista,
não tem viola nem violeiro.
Tudo é desértico, árido, sofrido.
A escola fechou ontem
- a professora adoeceu de falta
d´água, de ânimo, de alunos,
de marido (seu corpo secou de tantas faltas).
As famílias já não são grandes
- seus filhos fogem deste canto de chão
e vão tentar a vida na grande cidade,
onde tudo é passageiro, vil e traiçoeiro.
São Paulo, 20 de fevereiro de 2004.