TERRA SECA

Nosso mundo transbordou,

de exaustão saturou,

e os rios ficaram turvos,

e os animais vivem isolados.

A terra seca já não produz ervas

- a estiagem assola o campo.

O colono chora ao lado do bezerro

que de fome definhou-se no sem-pasto.

O azul do sertão é escaldante,

o sol arrasa a pele, as lágrimas, a alma.

Não tem mais repentista,

não tem viola nem violeiro.

Tudo é desértico, árido, sofrido.

A escola fechou ontem

- a professora adoeceu de falta

d´água, de ânimo, de alunos,

de marido (seu corpo secou de tantas faltas).

As famílias já não são grandes

- seus filhos fogem deste canto de chão

e vão tentar a vida na grande cidade,

onde tudo é passageiro, vil e traiçoeiro.

São Paulo, 20 de fevereiro de 2004.

Marcela de Baumont
Enviado por Marcela de Baumont em 04/06/2009
Código do texto: T1632123
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