CRIANÇA-DESESPERANÇA

Sinais de trânsito

Consagram-se como a mansão do desespero:

Retina que projeta o pletórico curso

Dos oceanos desmesurados

Tal um caudaloso riacho

Áspero, egoísta, velhaco, avarento!

A nascente de um homem revoltado do amanhã

Aproxima-se dum carro,

Momentaneamente parado,

E pede uma esmola, um trocado

A um varão, quase ás portas da terceira idade,

O qual lhe responde negativamente

Como quem toma posse

Do semântico corpo duma troça,

Proferida por um palhaço insosso, idiota!

Ah, com efeito,

Quando regressar á sua moderna senzala,

Será recebido pelo lancinante e sádico abraço,

Dado pela frustrada materna senhora

Ou por seu irascível patriarca,

Forjados, quem sabe também,

Por um incessante ciclo

Da alijante navalha opressora da miséria:

Sempre a portar o vírus da avidez não contentada, a edace fera!

Ah, pobre menino medrado,

Que se tresmalha da vida.

Indivíduo púbere e opaco

Que não recebe o sol da honrosa alegria.

Jovem homem confinado num mundo

Onde o poder da voragem

É a sua única verdade e sina.

JESSÉ BARBOSA DE OLIVEIRA