ROLETA RUSSA

Medra o sangue ao temor de vê-lo espalhado,

Orvalho de tristeza em campos de guerra, soldados

Sem uniformes nem cutunos reluzentes

Praças de guerra, guerras em praças, em ruas

Guerra civil, verte-se o sangue civilmente

Civilizadamente veste o luto cruel, brutal

Levar até o túmulo o inocente, imprudente fostes

Que andavas distraído, e a bala, perdida e solitária

Encontra sua morada ferozmente.

Embate funesto, renegado, alistas e convocas

O frescor das manhas juvenis, soldados

Desarmados de pátria, desertores de sua própria essência

Dão-lhes o frio do aço empunhado

Alvo desfocado, o que importa?

homem, mulher ou criança.

Medra o sono, à luz que corta o escuro da janela

O som da bala cortante, o tiro certo e o errante

O estalar repetido, seco, o estampido

Levar repetidamente até o túmulo, o inocente.

Onde estavas, que não correu, não se escondeu?

E a bala, perdida e solitária, repete sua sina,

Encontra sua morada ferozmente.

Campo de guerra, barreiras armadas

Por sacos de areias sociais, o frio da lápide

Não amedronta, e precoces lançam-se ao fim, à morte

Roleta russa, desatino, empunham-lhe em sua mão frágil

O ferro, o berro, o homem ainda menino

Medra o ar, ao cheiro do chumbo queimado

Estilhaços humanos, a carne, o corpo perfurado

Esqueletos aquartelados, quartéis a céu aberto

Guerrilha sem fronteira geográfica, sem causa

Bandeira livre para o caos, a violência.

Ordem, leis e progresso, medra a mão que embala

O ventre livre, à sina, o morro de artefatos vocais,

Vocabulário rico para analfabetos morais,

o beco do discurso mágico,

o coelho tirado magicamente da cartola,

e a bala rajante, cortante, passa solitária,

Abrindo fendas e covas, e mais uma vez, perdida

Encontra ferozmente sua morada.

angela soeiro
Enviado por angela soeiro em 04/06/2006
Reeditado em 07/06/2006
Código do texto: T169188