Capoeira, Ideais e Capitais

Um dia tive um amigo idealista.

Morreu o ideal, ficou o capital.

Não se deve fazer julgamentos

Pois neste mundo, todos sabem:

A muitos, escraviza o vil metal.

Já eu, no meu caso,

Sei que morro pobre, mas feliz

Seguindo um ideal

E o meu nariz.

Não me queixo,

É escolha minha.

Quem nasceu mesmo pra idealista

Nunca chega a capitalista -- graças a Deus!

Não que não tenha dinheiro,

Mas que não queira só acumular.

Dinheiro e Amor,

Nesse ponto, são iguais:

Quanto mais se doa,

Mais se vê multiplicar.

Amor,

Quanto mais se dá,

Muito mais brota.

E coisas boas faz crescer.

Já dinheiro,

Melhor é gastar.

Quanto mais se acumula,

Mais rápido pode desaparecer.

Taí a crise que não me deixa mentir:

Os milhões da rainha,

Em que buraco negro foram cair?

E o pensar que ganhou, o lucro

É pura ilusão.

Não faço alusão ao voto de pobreza

Mas à necessidade de dó-e-ação.

Vire para o lado e veja:

Na maior parte do mundo

Há gente que ainda definha

Por pura falta de pão.

E com tanta tecnologia, por quê?

Quem por acaso agora balança,

Ao som da capoeira

Entre o idealismo e o capital,

Ouça o bom conselho do Baden,

O Powell, o poder do Berimbau:

“Quem de dentro de si não sai

Vai morrer sem amar ninguém

O dinheiro de quem não dá

É o trabalho de quem não tem

Capoeira que é bom não cai

Mas se um dia ele cai, cai bem” *

* Trecho da canção Berimbau, de Baden Powell, inesquecivelmente interpretada por Nara Leão.