VISÃO DE MADRUGADA
É madrugada e ela talvez nem saiba
A luz da aurora vai já aparecer
Os pés descalços um tanto fatigados
Pedem um pouco de paz, querem viver
A face assemelha-se a uma pintura transcedental
O olho negro de sombra borrada
Nos lábios o vestígio de um batom rubro
A face também em rubor mesmo já cansada
Pela madrugada vai se decompondo
Retirando o brinco, depois o colar
Bijuterias vagabundas de liquidação
Tanto quanto a dona que está a ostentar
Suas unhas postiças ainda vermelhas
Na pele morena, pele bronzeada
O corpo seminu, vem passando frio
A roupa mesmo mínima lhe é apropriada
Nas mãos enfeitadas trás sua sandália
O salto avantajado para os pés pequenos
A marca da idade está mascarada
Enxergamos ela no olhar sereno
Olhos de enxotada, marginalizados
Olhos de prostituta, mal remunerada
Olhos de criança, reflexo de sonhos
Olhos de kajal, de mulher retardada
Olhos de vadia, olhos de indomada
Que me encaram secos nesta madrugada
Olhos tão distantes, olhos tão pedintes
Olhos de fera ferida, de criança abusada
Magna Fernandes ~> 31/08/2009 (14:53hs)