CATILINÁRIA

Aqui vou estar, senhores,

sempre apto ao combate,

nos instantes bons e nos confins

dos momentos intragáveis.

Estarei disposto à espinafração,

para coroar de desprezo o rei;

então, quaisquer imitadores da vida

e todos os patifes descartáveis.

Meu sarcasmo brotará da mão,

como os pés de mato da campina,

na fachada lisa dos falsários,

na fuça dos abomináveis.

Estarei vigilante sempre, sim,

lá onde, como e quando for,

tal das cabras o peão do pastoreio,

ou o vate dos sonhos indecifráveis.

Às musas, pois, todas as rosas!

(E virá colheita chã da ternura).

Aos patifes, contudo, lanço farpas,

e que sejam elas implacáveis.

Abdico de ter o meu sangue frio!

Quero poder sempre indignar-me,

para causar, onde der o nariz,

sob medidas defensáveis.

Quero não ter o meu sangue frio!

Prefiro compor minha proposição

(a mais mínima catilinária)

com palavras deveras amaras,

indeléveis à mediocridade

dos maus homens públicos,

dos hipócritas,

dos calhordas,

dos paus-mandados,

dos dedos-duros,

dos velhacos,

dos oportunistas,

dos presunçosos,

dos canalhas,

dos mercenários,

dos pelegos sindicais,

dos traidores;

sobretudo, em particular,

dos caluniadores, pulhas,

pulhas detestáveis.

(Julho de 1996)

Fort., 24/09/2009.

Gomes da Silveira
Enviado por Gomes da Silveira em 24/09/2009
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