À procura do concebível

Os prédios despontam melancólicos

entre as névoas da manhã fria.

O céu, indefinido de matizes poluentes,

ausente está de transcendências e promessas

e aquela que fiz outrora a você, amiga,

desta atmosfera não recebe o eco.

Da esguia trama do labirinto urbano,

a circulação xenófoba de vultos furtivos

não nos conhece, nem o poderá:

quem poderia pô-los cientes

do desconhecido que são para si mesmos?

E se eu me transportasse a outras paisagens,

o que veria, além do que conheço ou concebo?

A mesma aquiescência, a mesma violência

rompendo ambas a tênue liga transcendente

que tecemos sem caução, nem são planejamento,

na esperança de unir sanidade e desejo?

Choupanas de camponeses distantes,

a expansão azul das gaivotas,

monges andando em círculo,

um mundo incompleto redundando em erro,

pois ainda não lhe foi sem mistério revelada

a verdadeira concepção do bem.

A mesma dor,

o mesmo pranto,

a mesma prece.

E ainda fecha-se os olhos e dorme-se.

(Pegue seu martelo, carregue sua cruz.

Abra o terreno, construa e plante.

E, por mais que cave as trincheiras do temporário,

jamais esqueça do hábito salutar

de vez por outra olhar para o céu.)