O sono do feto

Um gosto de sangue...

Influxo hormonal... Esboço de paz...

Um sono sem destino... Pulsa a traição.

Pulsa todo um universo de traição.

Microcósmica partícula abandonada ao macrocosmo

festivamente composto por n elementos

os quais, de sorrateiro,

a induzem ao despertar da paz orgânica,

à ciência da solidão,

à alquimia das visões,

ao jogo da transformação,

num apocalipse amniótico

de retrógrada órbita, de duvidosa prospecção,

em alterada formação... Gosto de sangue.

Obstinada agregação de proteínas-base.

Inconsciência. Inconsistência.

Longínquos espirais... Luz.

Embrionário claustro

a aguardar da liberdade um arremedo,

agorafóbica insegurança.

Luz.

Eletricidade.

Raios.

Fluxo.

As cifras das medidas.

Os códigos da aparelhagem.

Súbita revelação.

Cabeça, tronco e membros...

Em sutis interferências,

intervém nos prazeres fetais

uma gama de singulares substâncias,

um torvelinho de lembranças...

As prateleiras vazias de um jovem córtex

esperam pela reluzente mercadoria que as ocupará.

Hormônios. Luz branca.

Ainda no grande útero do condicionamento social,

é cada unidade pensante

um aborto da ciência.

Gosto de sangue.