Desabrigado
Passavam lindas canoas
com namorados latentes
sentiam apenas as águas
e nunca o ranger dos dentes
Passavam espertos peixes
apressados para o cio
mas não sentiam o tremor
daquele cortante frio
Passavam folhas dispersas
no rítmo das correntezas
sem perceberem a dor
causada pela certeza
Passavam as próprias águas
sem mudar de apararência
mas não sentiram o amor
de tão bela inoscência
Passou o fim de um tempo
e só mesmo ele notou
no canto daquela ponte
uma vida que se acabou.
BH inverno de 1980