Páginas e Ritos em um Dia de Outono

Páginas...

Como folhas se desprendem

Dos cadernos desbotados pelos anos

Das árvores em reverência ao outono

Ritos...

Como preces ao Deus se remetem

Nos oratórios, mesquitas, sinagogas, templos

Na meditação em direção ao Nirvana

Páginas...

que são abertas, livros que se fecham

Como ao suave toque na sensitiva dormideira

Na história da vida e de seus ciclos.

Ritos...

que te conduzem aos portais que se abrem

Como ao toque do mestre na iniciação

Na busca da fé através da oração.

Páginas, ritos, a que te levam?

Descobertas, rituais,

Intelectuais, espirituais

Nas páginas desfolhadas, quase soltas

Revejo imagens,

contos, retratos,

pequenas lembranças

Nos ritos consagrados pelo tempo

Contemplo o silêncio

e reverencio

esta força divina

Nas caminhadas, ficam os rastros,

marcos de passagens,

registradas nas páginas de vida

Nas orações,

te espreitam no horizonte, astros

Finitos em sua infinitude cósmica,

No breve folhear, ao acaso,

Retorna um pensamento

transformado em citação

De uma época de viagem

ao sertão nordestino

Que sintetiza a analogia que ora faço:

Sedes como a folha do sisal.

Que ao tempo desafia e aborda,

Resistente, se ergue na aridez do sertão,

Flexível, se torna papiro, papel, corda,

Sensível, se permite gravar tuas emoções,

Teu coração persiste, brota,

Se tu tens sede verte água, e te dá um sinal.

AjAraújo, o poeta humanista.