E agora, Mané?
(Parodiando Drummond)
Wilson Correia*
E agora, Mané?
A câmera filmou,
o microfone gravou,
o jornal desmentiu,
a tevê exibiu,
e agora, Mané?
e agora, polantra**?
Você, grande nome,
que rouba de todos,
você que faz rezas,
que conspira, sacaneia?
e agora, Mané?
Está como quer,
está com tudo,
está milionariozinho,
pode beber o que quiser,
pode fumar o que vier,
e cuspir na cara do eleitor,
mas a chapa esquentou,
o seu dia amanheceu,
seu trem descarrilou,
o seu riso entristeceu,
funesta a sua alegria
e tudo nem começou
o eleitor já te odiou
o eleitor já te enterrou,
e agora, Mané?
E agora, Mané?
Sua amarga lábia,
seu momento de deus,
sua gula descomunal,
sua ânsia de ter,
sua fonte de ouro,
sua cueca e cofre,
sua meia sem fundo,
seu ódio da justiça – e agora?
Com a mão na grana
você quer ir embora,
não existe embora;
quer chegar no céu,
mas a câmera filmou;
quer ir gozar seu ouro,
ouro a mais apodreceu!
Mané, e agora?
Você podia ter pensado,
você podia ter sentido,
você podia ter julgado
a conduta que adotou,
a atitude que assumiu,
os atos que praticou,
nem pensou que é mortal...
Ah... mas você morre***,
você é mole, Mané!
Cercado de cúmplices
criminoso descarado,
você tem cidade,
tem terra na lua
quis corromper o céu,
até avião surrupiou
mas a fuga é falta,
carece de aonde, Mané!
Mané, você tem um onde?
_________
*Wilson Correia é filósofo, psicopedagogo e doutor em Educação pela Unicamp e Adjunto em Filosofia da Educação na Universidade Federal do Tocantins. É autor de ‘TCC não é um bicho-de-sete-cabeças’. Rio de Janeiro: Ciência Moderna: 2009. Endereço eletrônico: wilfc2002@yahoo.com.br.
** Político + pilantra.
*** Pelo menos na paródia, cabe o politicídio. Tomara o conjunto de eleitores tome vergonha também (75% dos brasileiros disseram que, em cargo público, corromperiam e seriam corrompidos) e passem também a praticar o politicídio, pelo voto, a arma do eleitor. Quem vota em corrupto é cúmplice da corrupção que ele praticou ou praticará.