COTIDIANO ZERO

O mundo foi feito em sete,

o sete foi feito primeiro.

No último sete um descanso,

o mundo parou pra balanço.

agora com sete dinheiros

não compro nem pá pra coveiro;

tamanco pra pé de gigante,

cordão pra cintura de frade.

Mulher gestante

bem confiante

marido amante

criança errante

conforto a tantos

loucura a mais

guri sem pais

irmãos rivais

João ninguém

senhor de harém

doutor de anais.

Chave, contra chave,

cadeado, tranca e grade;

marcação numérica,

papéis de identidade;

fé, conselho, aborto,

carnaval de caridade;

“alegria de pobre

dura pouco

não vai tarde;”

voz de camelô

malandro armado e delegado;

samba de terreiro,

Bola-Preta e bem amado;

nada disso invade

o meu cotidiano zero:

-“Praga de urubu

não pega em cavalo velho!”

meu santo caseiro milagreiro

fã de passageiro e jornaleiro

pai de peregrino deformado

curador de sogra e de cunhado

gente corrosiva e depressiva

produção do tempo e do momento

conseqüência de mil e trezentos

sete e mais milhares de setenta

tanto sete não matou o tempo

nem diminuiu o meu talento.

Na rua onde os loucos se encontram

parados, correndo ou rodando

reclamam de tudo ou de nada

tropeçam, se afogam na lama

mulheres transitam à toa

por baixo do céu da marquise

com suas sombrinhas abertas

comprimem os outros à chuva.

É natural

mas é fatal

é irritante

mas atual

puxar buldog

içar carrinho

xepar legumes

vender carinho

saltar de cima

lutar esgrima .

Zecar
Enviado por Zecar em 25/05/2005
Código do texto: T19560