MORANGO PECAMINOSO

Lábio extra-vermelho

Morango pecaminoso,

Vestido curto demais

Tecido com fios do nada.

Passeia nas calçadas

Das ruas caóticas dum cais,

Vendendo carne aos abutres

Da decadência humana.

Rola sobre imundos lençóis

De camas torpes do mundo,

Sai abotoando a blusa

Partindo pra mais outra,

Aumentar a renda é preciso,

Mesmo que lhe rasgue a alma,

Ouvir do padre, na matriz,

Profissão do demo é a de meretriz.

Não sabe ele que já foi menina,

Princesa de modesto castelo,

Mas os corvos da violência

Fizerem-na órfã aos cinco,

A vagar pelas ruas do abandono.

Sonha e seu sonho transborda

De desejo de mudar o imutável

Destino de quem cresceu

Tendo como mãe a sarjeta,

Amigos só os morcegos da noite,

Envenenando seu sangue

Com o soro da perdição.

26/05/05.