Testamento

Poucas obras deixo neste mundo sem amor,

mas logo todos acharão provas contra mim,

pois em tudo que fiz deixei marcas do trabalho

e se o impossível ficou sempre para o futuro,

ainda assim deixei o que queria por escrito

para que se faça depois o que não posso agora.

Fiz tudo na certeza de que seria útil

construir a todo custo, ainda que achasse

pouco apoio e tantas pedras no caminho.

Mas sei também que sempre haverá condenações,

pelo que tentei fazer e nem sempre o fiz.

E se não faço nada, todos já teriam dito:

- Nesta vida, nunca foi capaz de fazer algo!

Entretanto se algo fiz a vida inteira

pelo menos erros devo tê-los cometido,

já que acerto apenas, quando erro várias vezes.

Parto, portanto, para sempre e satisfeito,

mesmo sabendo que não podia fazer muito,

pois muito mais ficou para ser realizado

e se mais pudesse construir no mundo, agora,

muito mais provas eu deixaria dos meus erros.

Deixo, portanto, a quem despreza os meus acertos

a certeza de que sempre dar-lhe-ei trabalho

para ficar a vida inteira a achar defeitos

e não fez nada, a não ser achá-los no que fiz.

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1) Publicado em "Diversos Caminhos - Correio do Sul" - Coluna de Zanoto - 21/MAR/1987 - Varginha (MG).

2) Publicado em "Boletim da Banca Nacional de Literatura Independente" - Nº 9 - JUN/1987 - Rio de Janeiro (RJ) - pp. 23.

3) Publicado no livro "Libertas quae sera tamen ou Escravo, Portanto Escrevo" - Ed. Ribro Arte - Rio de Janeiro - 1987 - pp. 58.

4) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/testamen.htm