As Grades das Horas
Você se diverte,
quando me muda de mesa
e me controla o movimento.
Você me rouba a vida,
me trancafia
entre as grades do relógio
e pensa que meu sonho acaba,
quando apenas me alimenta.
Mas aí é que você se engana
quanto mais você me esgana
mais vontade eu sinto de voar,
mesmo quando estou em cana
e vejo o sol na janela a me escapar.
Você está sempre tentando destruir
tudo aquilo que pretendo construir
e tenta me ensinar que a abertura estreita que oferece
se parece com a liberdade que mereço.
Entretanto, meu caro,
ninguém ensina um pássaro a voar
e se você não entende o que falo
e quase sempre não faz nenhum esforço,
eu entendo o que você não fala,
quando olha severo pro relógio.
Porém não se desespere
que um dia eu deixo de falar,
mas você nunca deixará de me escutar,
pois meus versos viajam no vento
e, sinto muito, o vento você não pode trancafiar.
Eu sei que você sonha com o poder
de nos fazer calar,
mas as palavras que espalho pelo mundo
deixam marcas nas pessoas
e não se apagam
mesmo quando estou calado ou morto
e você pensa que venceu.
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1) Publicado em "O Bonde" - Ano II - Nº 2 - JAN/FEV/1987 - Rio de Janeiro (RJ).
2) Publicado em "Verso Reverso" - SET/1986 - Rio de Janeiro (RJ).
3) Publicado em "Libertas quae sera tamen ou Escravo, Portanto Escrevo" - Ed. Ribro Arte - Rio de Janeiro - 1987 - pp. 28-29.
4) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/grades.htm