O Monstro

Como falar de um imenso monstro,

se não lhe mostro as garras,

escondidas nos edifícios?

Como falar de uma medusa,

se nas praias tomamos banho

em sua gosma?

Como avaliar o tamanho do monstro,

se somente conseguimos sentir

seu hálito fétido de fumaça?

Como condenar seus assassinatos,

se dispomos apenas de estatísticas

de mortalidade infantil?

Como localizar sua morada,

se no caminho

colocaram um enorme oceano?

Como combatê-lo,

se na hora da fome,

o monstro distribui pão e circo?

Como reagir diante do monstro,

se seus dentes afiados

estão sempre sorrindo?

Como contar a verdade sobre o monstro,

se apenas ouvimos as histórias

contadas pelo próprio monstro?

Para de-monstrá-lo,

basta construir uma fileira de olhos

e uma barreira de dedos

apontados na direção

do futuro!

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1) Publicado no livro "Libertas quae sera tamen ou Escravo, Portanto Escrevo" - Ribro Arte Ed. - Rio de Janeiro - 1987 - pp. 44.

2) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/omonstro.htm