Refúgio Difícil

Para Luis Sérgio Conde Correa

vou para lá

abandonar o homem

silêncio

de frases omitidas

vou e não escuto

nunca mais

frases geladas

nas bocas fechadas

polida-mente

polida-demais

vou e não vejo

emperradas as máquinas dicionárias

o poeta morto

vou sobrefalar

e sujar-me

com palavras limpas

vou deixar palavras possíveis

na ponta da boca

e não verei o vento destruir

as filas

as falas

tolas

da Bolsa de Valores

vou sacudir-me do mal

e deixar o futuro

nas grades pequenas

nas paredes farpadas

grosseiras erguidas em lei

e deixar escorrer o traçado do rio

sacudir a roupa da poeira do caos

e arrastar o bagaço do que resta de mim

não, evadir-me não posso!

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1) Publicado em "Jornal dos Escritores Inéditos" - AGO/1986 - Brasília (DF).

2) Publicado no livro "Incêndio Menor" - Ed. do autor - Rio de Janeiro - 1981 - pp. 27

3) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/refugio.htm