No Engarrafamento

O poeta lê poemas

no engarrafamento

e ouve buzinas reclamando.

O poeta, indignado,

declama em voz bem alta

o poema atravessado

na garganta

e aos motoristas de metal

se dirige inflamdo.

A maioria, agora barulhenta,

somente antevê

o reconforto das notícias

na poltrona

dos poltrões

encostados no sistema

e buzina enraivecida ...

Os poemas se sucedem

e a cidade se cobre

de automóveis esperando ...

As buzinas chamam

e as autoridades chegam

ou pisam?

Calam-se todos

à espera da decisão oficial

e o poeta agora lê

buzinas de papel

e resmunga em voz truncada

derrotado!

- Em terra de cego,

quem tem um olho,

como sofre!

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1) Publicado em "Saudades" - SESC - Guarabira (PB) - 1983.

2) Publicado no livro "Libertas quae sera tamen ou Escravo, Portanto Escrevo" - Ribro Arte Ed. - Rio de Janeiro - 1987 - pp. 52-53.

3) Publicado em "Poesias ao Sabor do Vento" - http://www.bchicomendes.com/dcarrara/engarraf.htm