A Lágrima não Ociosa

Para Marcia Jacques

a lágrima caiu . . .

em faces escravas

lambeu ossos e rugas

e abriu novos rios

no rosto suado

amargo roubado

da falta de pressa da noite acabar

derrubou pontes e cargos

e palavras de ordem

inaugurou o remorso

nas poucas moedas

que caem da mesa

mas não escorreu das faces da fábrica

nas cidades ouviu-se

o crescimento da lágrima

e o barulho

invadiu carnavais

e discursos

com cheiro de voto

e rateio de botas

a lágrima ocupou o país do futuro

encontrou o progresso

e a ordem do trem da Central

desagüou no Mangue

e obteve sucesso,

mas a vida fácil vem sempre depois

e as pedras caíram

de sola nas águas

do pranto

desfile

de portas de ferro

sem chaves de ouro

comovidamente

surgem leis

no meio do lucro

e assumem o risco

de perder o futuro:

decretou-se o silêncio da dor

entretanto

afogaram-se os risos

e o país mascate maior

entrou no mercado

exportador de novelas

comovidamente

vê-se o progresso assaltar panos

para enxugar o país

--------------------------------------