Ulisses do centro

Uma multidão de pensamentos abafados pelo tempo;

andam todos próximos, mas são cegos e segregados pelo vento.

Nas calçadas, passos apressados - pés que pisam juntos e não são unidos.

Sombras em movimento, vultos dançantes e olhares desencontrados.

A buzina do carro não assusta, mas furta a atenção,

aprisiona os Ulisses na cidade, como o canto das sereias no mar,

só que no centro não existe mastro para se amarrar:

o naufrágo do eu na cidade, não se pode evitar.

Homens respiram juntos e o único som é o da sua própria respiração.

Março 2009