Os severinos

Os severinos

Olhos da cor do céu

Cabelos de algodão

Nas costas, tantos janeiros,

Na fala, tanta fraqueza,

No olhar, profunda tristeza.

Passos lentos,

Passos trôpegos.

Uma bengala na mão

Aponta sete crianças

Desnutridas, pés no chão

Como sete severinos

Que só conhecem o não.

Não têm pai,

Não têm o pão,

Não têm roupa

Nem sapato.

Se tivessem sapatinhos,

Poderiam até deixá-los

Na janela do quintal

Pra esperar Papai Noel

Numa noite de Natal.

A velhinha, que é mãe

Da avó das sete crianças,

Com um gesto governante,

Levanta a bengala e diz:

Vão pra escola, crianças!

Não tenho nada na vida

Pra lhes deixar como herança.

E com seus olhos azuis

Parados no azul do tempo

A velhinha, em sua cadeira

Espera o tempo passar.

As crianças vão crescer,

E ela vai dormir em paz

Abigail Costa
Enviado por Abigail Costa em 27/04/2010
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