JOSÉ DA TECELAGEM

Ele perdia-se em que hora soaria o apito da fábrica.

Sabia sim quantos segundos ele iria durar.

José era o dono da fábrica,

Do chão da fábrica, da chaminé,

Proprietário de todos os fardos.

Olhos cerrados para poder ver na poeira,

Surdez necessária para ouvir as batidas das alavancas do

tear,

Sobrancelhas de algodão;

A mente hipnotizada com o ar de corante.

Não faltava um dia de trabalho.

A marmita vinha de menino:

A fome esbarrava no alumínio.

Ele estava diferente ultimamente,

Parado, imaginava...

Estalo!

Correu, mexeu, teceu.

Não era um cobertor mendigo,

Chita ( seda ),

Nem índigo.

Pano alvo , organdi para enfeitar, não abrigo.

Pagou por ele, com trabalho, alguns dias;

Com moedas alguns meses.

A filha de José nasceu!

A mortalha ( toalha ) batismal

Serviu-lhe ao orgulho.

José era, agora, semelhante a muitos.

Ouviu o apito...

Teve medo!

De ser demitido.

Luís Aseokaynha
Enviado por Luís Aseokaynha em 05/05/2010
Código do texto: T2238526
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