TRABALHADOR FELIZ

Carlos Celso-CARCEL (Pernambuco)

Me sentei no banquinho lá da praça,

contemplei o enorme arranha-céu,

até ri, quando vi que não arranha,

mas o povo na sua artimanha

esquecendo a torre de babel,

colocou esse nome, até sem graça.

Mas, ali, meditando me lembrava

quantas mãos levantaram grande prédio;

pedra, ferro, argamassa, ferramenta,

suor quente do rosto complementa

essa metamorfose de intermédio

que o grande gigante levantava.

Hoje olha-se, vê-se imponente,

vai-e-vem, entre e sai todos os dias,

paletó e gravata a vestimenta

de um povo que hoje lhe frequenta

ministrando as suas primazias;

se conhece, nem lembra, aquela gente.

Porém, lembro-me, pude um deles ser,

duas mãos calejadas entre tantas,

sinto, ainda, nos lábios o salgado

do suor que por mim foi derramado,

mas eu posso dizer que, como plantas,

monumentos enormes fiz crescer.

O diploma que na parede falta

eu o tenho nas mãos, são esses calos;

se não ouço chamar-me de doutor,

orgulhoso, ouço trabalhador;

numa vida de poucos intervalos

ser feliz não é ser de classe alta.

(3o. pág. 121)