Malvado.

Olhai por nós senhor,

A cada dia sinto fome, sinto dor!

Olhai para esse ser sofredor

Acalentai meu rancor, daí-me força para demonstrar amor.

O dia-a-dia consome o meu ser

Quando criança pensei em crescer,

Hoje anos após... pare o mundo, que eu quero descer.

O crescer é possível, o que não é, é regredir,

Ter mamãe, vovó para fazer-me dormir,

Crises, crises passam por mim,

Quero correr, fingir, dormir.

Politica pobre, economia de subsistir,

Farelo, dá um pouquinho pra mim?!

Das calçadas, eu vejo passarem por mim,

E daí um olhar desconfiado, a insistir.

Oh, olhares tristes, me condenam,

Sem dor, nem pena deixam-me as duras penas.

Roupas, comida e cena, ouvi falar de Antenas.

Falam de infância e dizem que é para criança,

Quem é criança? O que lhes vem na lembrança?

Será que sou, ou não sou essa esperança?

O país do futuro... que turvo é o presente dessa nação,

Nação?! Essa que construíram, ou a futura?

Futura na ponta da agulha, na construção?

Toda essa enganação, mentira absurda pura.

Olha para os lados, aquele que passa,

Seja macho, ou, viado,

Anda nas ruas assombrado.

Apavorado, a qualquer momento... basta!

Sou criança, sou melindrado,

Tenho que tomar cuidado, para não ser mal interpretado.

Pois, a todo momento tenho que ser grosso,

Ou não sou macho.

Desde o mais remoto da minha infância,

Eu sou modelado, negro tenho que ser moldado.

Não tenho identidade, falência do mundo em dominância,

Quero voltar a ser criança, não ser soldado.

Preciso ser malcriado, fugir dos malvados,

Pra que possa ter minha identidade ejaculado,

Negro, pobre e favelado.