Caras caretas, caretas caras.

Oh, meu maracatu de que cor és tu?

Não vejo cor na luz dos teus sentidos,

Estremeço perco o juízo, não ligo.

Desligo o meu ouvido para escutar-te,

Para que nada mais atrapalhe quando você passe.

Oh, maracatu de cantos e encantos,

De mistérios e prantos, de enganos.

Máscaras encobrem seu manto, tanto...

Onde está o alvará que delineia sua estática?

Oh, cultura pura que formosura é o seu ser.

Quando rasgarás a mascara do teu pranto,

E dirás sem medo e sem espanto quem tu és.

Negro sem pai, nem mãe, sem liberdade

Amarrado pela mão de satanás,

Não podendo dar um passo para frente nem para trás.

Oh, cultura como te engessaste, ou deixaste engessar?

Mas, tu já foste livre como uma pluma à voar,

Nasceste com um batuque arrepiante que fazia dançar.

Com a cara limpa à desfilar, roupas leves boa à bailar.

Rainhas eram só homens, em oitenta isso veio a mudar!

Agora institucionalizam-te que nada pode ousar.

Preso na gaiola, afirmam que é para te conservar.

Oh! É a cara de quem está no poder...

Pensava que eras cultura livre para ir e vir.

Não é assim os passos de quem sai em ti?!

Vai, vem, na n'água do grande mar que convém.

Vai Calunga nesse mar que nos traga e nos afunda.

Vai Maracatu tornas novamente dona de tu.

Vem Calunga manda esse povo retrogrado tomar na bucha.

Vai Rainha ser coroada com pompas de majestade,

Vem balaio com ar de fertilidade e fartura.

Vai macumba dar seu recado aos quatro cantos,

Vem Orixás devolver a alegria de vivenciar cultura.

Liberta-te Maracatu não aceite tudo que impõe à tu,

Solta-te das corrente e encara de fronte essa corja que a tudo e a todos corrompe.

Liberta-te da escravidão institucional, assim como o negro da “escravidão mental”,

Negue esses que te têm nas mãos, sem coração mantem a chama do racismo.

Andas com tuas próprias pernas, com pressa... sem pressa, se (mani)festa.