Africanidade
No teu olhar afro eu me perco
Tento encontrar as respostas
Sobre as questões muito antigas
Que todos fingem não conhecer
Me olho e estremeço procurando
O recomeço de toda a história perdida
Que traça os nossos destinos.
No teu olhar afro eu me perco,
Mas te encontro nas brincadeiras da infância,
No quintal de terra batida e molhada, nas chuvas e enxurradas
Seguidas de trovoadas, e noites de lua cheia.
Me vejo nos teus anseios, a adolescência confusa
As paixões, repressões, conflitos.
O desejo latente de liberdade.
No teu olhar afro eu me perco
Me encontro e me reconheço
Faço parte deste contexto
Com garra, força e esperança.
Liberto o meu eu feminino
Despindo os meus temores
Te ofereço os meus sonhos.
No teu olhar afro eu me perco
Te encontro e te reconheço
Jogo fora os meus medos
Busco apenas o recomeço
Experimento as novidades
Mergulho no egoísmo dos meus desejos
Materializo a tua masculinidade.
No teu olhar afro eu me perco,
Mas percebo que os teus medos te traem:
Flui no teu ego de macho desatinado
A necessidade de farejar a brisa fresca das savanas
Como se estivesse no coração da África
Sempre à procura da caça
Correndo solto ao por do sol.
No teu olhar afro eu te encontro
E enxergo o descompasso da tua solidão
Uma inimiga antiga, que te amedronta e te aflige.
E numa febre de contradições, me presenteio guerreiro,
Com a tua presença recheada de incertezas milenares
Sacio a minha sede com a tua boca molhada
E me completo com a tua mística virilidade.