Africanidade

No teu olhar afro eu me perco

Tento encontrar as respostas

Sobre as questões muito antigas

Que todos fingem não conhecer

Me olho e estremeço procurando

O recomeço de toda a história perdida

Que traça os nossos destinos.

No teu olhar afro eu me perco,

Mas te encontro nas brincadeiras da infância,

No quintal de terra batida e molhada, nas chuvas e enxurradas

Seguidas de trovoadas, e noites de lua cheia.

Me vejo nos teus anseios, a adolescência confusa

As paixões, repressões, conflitos.

O desejo latente de liberdade.

No teu olhar afro eu me perco

Me encontro e me reconheço

Faço parte deste contexto

Com garra, força e esperança.

Liberto o meu eu feminino

Despindo os meus temores

Te ofereço os meus sonhos.

No teu olhar afro eu me perco

Te encontro e te reconheço

Jogo fora os meus medos

Busco apenas o recomeço

Experimento as novidades

Mergulho no egoísmo dos meus desejos

Materializo a tua masculinidade.

No teu olhar afro eu me perco,

Mas percebo que os teus medos te traem:

Flui no teu ego de macho desatinado

A necessidade de farejar a brisa fresca das savanas

Como se estivesse no coração da África

Sempre à procura da caça

Correndo solto ao por do sol.

No teu olhar afro eu te encontro

E enxergo o descompasso da tua solidão

Uma inimiga antiga, que te amedronta e te aflige.

E numa febre de contradições, me presenteio guerreiro,

Com a tua presença recheada de incertezas milenares

Sacio a minha sede com a tua boca molhada

E me completo com a tua mística virilidade.

Enilda Suzart
Enviado por Enilda Suzart em 12/11/2010
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