FLOR QUEIMADA

Minha voz teima em não se calar,

rodopia, gira, contorna,

não se enfeita de flores

nem se adorna de roupa colorida.

É feita de nervos e de sangue, setas

nos braços, relembrando a dor,

dos que se passeiam sem nada,

nem pão nem água nem cor nem som.

Boca de escárnio, rasgando o rosto,

o estupro da mente cansada,

ser igual a tantos outros, os demais,

como alimento para as esconjurações.

Morte lenta ainda em vida, jazem no

chão as flores queimadas, pelo toque

da mão absurda, a carne, o cheiro,

mais o quanto nos é possível aguentar.

Olhos abertos à evidência nocturna,

sombras de gatos, amaciando os muros,

e eu que vou nesta vida a cantarolar,

sou excepção à verdade oculta, dissimulada.

E calo e respeito, a dor que vos dói…

Jorge Humberto

04/12/10

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 04/12/2010
Código do texto: T2653423
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