MIGALHAS

A rua brilha.

Os últimos raios de sol

derramam-se sobre a trilha.

O indigente, porém, não vê o arrebol.

A calçada é limpa e vermelha.

O homem, sujo e repulsivo,

sente uma centelha,

percebe o lixo, o coração pulsa, vivo.

Mãos multiplicadas catam,

selecionam dos restos, a migalha.

No íntimo, é a esperança que batalha

são sobreviventes, que ainda não matam.

No farfalhar de pássaros que procuram ninho

o ser ainda se mantém em pé, único, sozinho...

Ele anda até o último clarão do entardecer

necessita de um refúgio, de um amanhecer...

Divide o espaço com insetos, pedaços de jornais.

Encolhido, o corpo aquece, o sono vem acolhedor.

O sonho é nítido, humano, os anjos, seres reais

ele, enfim, um homem digno, um imperador!

Rosa Dias
Enviado por Rosa Dias em 19/10/2006
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