MIGALHAS
A rua brilha.
Os últimos raios de sol
derramam-se sobre a trilha.
O indigente, porém, não vê o arrebol.
A calçada é limpa e vermelha.
O homem, sujo e repulsivo,
sente uma centelha,
percebe o lixo, o coração pulsa, vivo.
Mãos multiplicadas catam,
selecionam dos restos, a migalha.
No íntimo, é a esperança que batalha
são sobreviventes, que ainda não matam.
No farfalhar de pássaros que procuram ninho
o ser ainda se mantém em pé, único, sozinho...
Ele anda até o último clarão do entardecer
necessita de um refúgio, de um amanhecer...
Divide o espaço com insetos, pedaços de jornais.
Encolhido, o corpo aquece, o sono vem acolhedor.
O sonho é nítido, humano, os anjos, seres reais
ele, enfim, um homem digno, um imperador!