Sertão Mar

A seca seca a terra,

seca a gente,

seca a vida.

Seca a morte que tem sede de viver

para matar a sorte de quem subvive

brincando de sobreviver.

Nefastos coronéis sugam suor e sangue

dessa gente que nem sabe assinar o nome,

dessa gente que morre de fome

para alimentar a gula do poder.

O nordeste?..

O nordeste é um latifúndio

onde latem fundo as desigualdades,

onde a miséria dita as ordens

e o analfabetismo é seu feitor,

na democracia do chicote

o cabresto marca o X do eleitor

para escolher seu carrasco e sua dor,

esse feudo fede a morte:

é o corpo faminto

que cai indigente

em meio a lavoura que o tempo secou,

é o vômito arrogante

do coronel prepotente

que se autodeificou.

É o descaso

que leva ao ocaso

um povo escravo da dor

é a dor que alimenta a morte

que mata a vida, assassinando a sorte.

Mas o nordestino é forte!

Faz de esperança o seu farnel.

Pega seu pau de arara,

vai pedir a “Padin Ciço”

que traga à terra um pouco de céu.

Canta e reza,

para espantar seus males,

quebrar maus olhares,

pedir água a Deus.

Lembra o Mestre Vitalino

que com a beleza de um menino

fez no barro o caxixi.

E o capitão Virgulino

que do cangaço foi ladino

foi um mito,

foi um rei.

De canudos ecoou um grito!

Era o profeta conselheiro

dizendo ao povo brasileiro:

“o sertão vai virar mar”,

quando a seca deixar de ser

um objeto no mercado da política,

quando a miséria não mais alimentar o poder,

quando o desmando enfartar o peito do coronelismo,

quando o analfabetismo calar e o povo disser não,

quando o chicote quebrar,

quando o cabresto partir...

“o sertão vai virar mar”

Antonio Pereira (Apon)

http://www.aponarte.com.br