190 milhões de palhaços no salão

É o carnaval dos coitados

Presos libertos, assassinos

Bêbados, pobres, desdentados

Dos exploradores de meninos

É o carnaval dos bandidos

Corruptos, contraventores

Dos policiais corrompidos

Dos viciados e fornecedores

É o carnaval da mulher que matou

Uma criança inocente por nada

Carnaval do cara que votou

Numa inacreditável piada

É o carnaval da escola que não ensina

Do emburrecimento, e da pobreza

Dos foliões urinando na esquina

Da mediocridade, eterna certeza

É o carnaval dos proles de Orwell

Embriagados em seu não-saber

Sambando e olhando pro céu

Alheios até não mais poder

É o carnaval da desilusão

Das enchentes e das tragédias

Da idiotice na sua televisão

Da classe baixa e da classe média

É o carnaval ao contrário

Da inversão da cara do Brasil

A canalhice saindo do armário

O engano, o esquema, o ardil

É o carnaval que a todos balança

Assim que o samba termina

E a deputada começa sua dança

Não ligando pro quanto abomina

É o carnaval do desfile do medo

Do concurso de fantasias macabro,

É chorar por quem partiu mais cedo

E temer estarmos nas mãos do diabo

É o carnaval do Brasil-perfeição,

Do povo que nada faz, nada fez

Todo sorrisos, todo ilusão

Fantasiado de bola da vez

Sambando como em convulsão

Esticando por mais de um mês

O salário, a bolsa, a pensão

E roubando no peso do freguês

É o carnaval eterno dos tolos,

Sambamos todos, eu e vocês.