Dos personagens e outros tãos
a bunda da atriz
é grave frontispício
de tudo que o sistema
faz comício
carrega em si
toda filosofia
enclausurada nas manchetes
de cada dia
o sexo passa a ser drama
de exígua tessitura
trançado nas entrelinhas
da ditadura
a democracia
cresce na imagem
do marginal dilacerado
na paisagem
o jornal regurgita
um sangue profano
no sacro desentender
dos seus enganos
na face do senador
existe quase a certeza
de que ao homem é dada
qualquer desnatureza
seu verbo é tão baldio
e alheio ao que destaca
que chega a dizer-se tanto
nos discursos que alinhava
a mulher na foto
carrega a maquiagem
como se fora a solução
de todas as miragens
e o cronista social
atiça a conveniência
pela própria condição
de despresença
é que lhe cabe muito
nos verbos que assenta
o gerente do banco
garante a simetria
entre a dama da corte
e sua grave revelia
destrava todos os cofres
invalida suas guias
como se fora um calote
nos ombros de cada dia
o governo aparece
em sua métrica enorme
de assassinar os civis
nos militares informes
é que não pode o sistema
abdicar da função
de replicar pelos campos
as normas da escravidão
salvando a democracia
na boca de seus canhões
e ao macaco da manchete
resta a vermelhidão
uma vergonha animalesca
das coisas e das manhãs.