Do som do mar ao céu profundo

A ponte que de teto se fazia

A quantos ali era abrigo

E choravam suas tantas dores

O que julgavam ser castigo

Ao som do mar ao céu profundo

Pobres, mendigos e vagabundo

De sonhos mortos ao tempo

Se viam a escória do mundo

Perdidos em seu próprio país

Como se um planeta distante

Em que um pão era milagre

Mas a morte uma constante

Mulheres crianças e velhos

Com lágrimas nos olhos eu vi

Solidários por tanta miséria

Dividiam a fome entre si

Enroscavam-se nas noites como sombras

Se dormiam, os pesadelos eram sonhos

E cada noite, que mais lenta se fazia

Cada um pouco a pouco mais morria

Com os ratos podres restos dividiam

E se perdiam no alvorecer da manhã.

Que outro dia diferente lhes seria?

Se a própria vida lhes era, agora, vã.

Hora do café saiam todos, em procissão

Em lentos passos pelo peso da miséria

Ainda assim, o mais depressa que podiam

Se não, para os ratos, o "fausto" café perdiam

Ferrenha luta com esqueléticos cães

Que pela fome de brabos se faziam

E as crianças... dividindo com urubus

Que como irmãos, do mesmo lixo comiam

Infeliz vida, inverso de valores

Melhor que gente muitos cachorros comem

Que drastica decadencia humana...

O animal que menos vale agora é o homem!

Crianças em flácidos seios penduradas

Sugando da mãe o próprio sangue

Sugando a sifílis espermática

De uma sociedade "democrática"

Fedidas mazelas sociais e imorais

Não são os mendigos, os pobres demais.

São esses que bem se sabe porque

Se fazem manchetes indecentes de jornais

Falsos discursos de mentes apodrecidas

Que até da alma o brio já perderam

Em que as palavras se fazem meros perdidos

Por que nelas, verdade e honra já morreran

Até a justiça, mulher de pureza santa

Com um martelo de carvalho a ela também mataram

E para que não visse seus algozes, verdugos cruéis

Com a própria toga, coitada, os olhos lhe vedaram

Morta a justiça, e por terra, na sarjeta caída

Apenas velada por negros e por pobres

Que tristemente sucumbem a tantos preceitos

Tão forte que é esse tão infeliz preconceito

Se exilado sou no meu próprio país

Por ser negro ou pobre, não posso mudar

Mas quem sabe me guarde uma outra bandeira

De paz, mesmo não sendo esta brasileira?

De tanto aouvi, até que um dia aprendi

Que uma tal de ventre livre um dia aqui nasceu

De esperança e liberdade houve um grito

Que atrofiado, coitado, logo que nasceu. Morreu

Então me ponho em luta e assim hei de gritar

Não por ser pobre ou negro, mas como herdeiro

De verdadeiros heróis que um dia aqui nasceram

Mas que não sei agora, se realmente foram brasileiros.

jose joao da cruz filho
Enviado por jose joao da cruz filho em 24/08/2011
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