IMPRECAÇÕES DE UM CONDENADO IX

Renego o passado e todas as

correntes, que fizeram de mim

um prisioneiro, de minhas

próprias falhas, a mim humanas.

Se mereci ou não, meu país é

testemunha privilegiada de meu

sofrimento, onde braços

e pernas cresceram, numa ânsia

de liberdade, que me foi negada.

Totalmente isolado dos outros,

só os livros envelhecidos me

viviam e me davam algum alento.

Mas logo despertava, desse meu

sonho, quando das botas cardadas,

do vil carrasco, eu sabia-lhes

do passo, no subir das escadas imundas.

Sem privacidade nem honra,

negando-me possíveis movimentos,

obrigavam-me a caminhar,

nas voltas exíguas, dum mísero parque.

Tudo à minha volta eram muros

e arame farpado, onde o sol não cabia,

nas minhas horas tristes,

e na sempre eterna e desmedida solidão.

E deitado em minha enxovia,

por unhas retalhada, viajava mundos,

e uma alegria se me via,

pois ali, cela de aço, era só mais eu.

E isso não me podiam roubar,

nem à força de chicote, de puro couro,

sempre que ousava, regras

não prestar, por minha sana humanidade.

Jorge Humberto

01/09/11

Jorge Humberto
Enviado por Jorge Humberto em 01/09/2011
Código do texto: T3194777
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