Ao cinegrafista da Band morto na favela Antares

Gelson Domingos

Era o dia-a-dia

Sem fim-de-semana.

Em grande correria,

Um buscador de fatos

De vender jornal.

Famintos de circo,

Os olhos do Brasil

Aguardam, sequiosos,

A colheita dos audazes.

Nesse cadafalso,

Cada passo em falso

Pode ser o fim.

O País anseia

Por sangue jorrando

À hora do jantar.

Para comentar...

Os olhos na tela

Cruzam a janela,

Atentos ao mundo

Das paredes feias.

Passeiam pelas lentes

Do protagonista

Das tomadas arriscadas.

Apreciam o panorama

Das coisas reais.

Em tempo real...

A audiência exige

Conhecer o avesso

Da vida em delírio.

Pão na mesa,

Patrão feliz,

Indicação ao Pulitzer...

Mas, na lei da selva

As feras não sabem discernir.

E, em cada esquina,

Tem bala perdida

Convidando a vida

A se ir - por nada!

A bala certeira

Não pára - por nada!

Drummond, me perdoe:

Há um homem do povo

Caído na rua!

É o fim da estrada

Para o prisioneiro

Da liberdade de imprensa.

A vida é assim:

Uns viram heróis

E, outros, manchete.

A culpa, certamente

É dos irmãos Lumière!

Julius Patricius
Enviado por Julius Patricius em 09/11/2011
Reeditado em 09/11/2011
Código do texto: T3325757
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