Ao cinegrafista da Band morto na favela Antares
Gelson Domingos
Era o dia-a-dia
Sem fim-de-semana.
Em grande correria,
Um buscador de fatos
De vender jornal.
Famintos de circo,
Os olhos do Brasil
Aguardam, sequiosos,
A colheita dos audazes.
Nesse cadafalso,
Cada passo em falso
Pode ser o fim.
O País anseia
Por sangue jorrando
À hora do jantar.
Para comentar...
Os olhos na tela
Cruzam a janela,
Atentos ao mundo
Das paredes feias.
Passeiam pelas lentes
Do protagonista
Das tomadas arriscadas.
Apreciam o panorama
Das coisas reais.
Em tempo real...
A audiência exige
Conhecer o avesso
Da vida em delírio.
Pão na mesa,
Patrão feliz,
Indicação ao Pulitzer...
Mas, na lei da selva
As feras não sabem discernir.
E, em cada esquina,
Tem bala perdida
Convidando a vida
A se ir - por nada!
A bala certeira
Não pára - por nada!
Drummond, me perdoe:
Há um homem do povo
Caído na rua!
É o fim da estrada
Para o prisioneiro
Da liberdade de imprensa.
A vida é assim:
Uns viram heróis
E, outros, manchete.
A culpa, certamente
É dos irmãos Lumière!