O menino e seu boné
Era uma vez um menino
Que era pobre e pequeno
Umas roupas sujas
Cobriam o seu raquítico corpo moreno.
Um dia esse menino sem fé
Caminhando descalço pela rua
Por acaso achou um boné
E o pôs na sua cabeça nua.
Mas na primeira esquina
De sua casa no caminho
Quando contente ia embora
Tomaram seu bonezinho.
E como esse menino chorou!
Mas nada havia de ser feito
Ele até que lutou
Mas o outro era mais forte não houve jeito.
E nas muitas coisas
Que se passam na vida
O tempo para esse menino se passou
E a vingança lhe foi oferecida.
Foi num dia quente
Caminhando pela rua
Quando de repente
Viu seu boné numa cabeça sem ser a sua.
E na primeira esquina
Foi ele fazer espreita
E retomou o seu boné
Pronto, a vingança estava feita.
Já não era mais aquele menino
Pobre, pequeno, raquítico moreno sem sorte
Aprendera com o destino
E agora era forte.
Mas a vingança é um doce prato
Que provoca indigestão
E o menino e seu boné
Confirmaram essa popular citação.
Foi em um dia normal
Da estação das flores
Que o menino e o seu boné banal
Perderam as cores.
Foi num momento imbecil da vida
Numa cruel paisagem urbana
Que o menino e seu boné
Foram atropelados pela máquina inumana.
O menino ficou no meio do asfalto
E o boné cobriu-lhe o sangue da cabeça
Sua alma foi para o céu alto
Enquanto o corpo ficou na terra espessa.
Foi o fim desse menino
Que morreu sem tempo para dor
E o símbolo do seu boné
Era o símbolo da paz e do amor.
Cícero