CLAMOR NEGRO
CLAMOR NEGRO
Que minha cor
Não seja motivo de xingamento
E emudeçam os tons pejorativos
Que me causam sofrimento
Que meu passado
Não me plante na escravidão
E nunca esqueçam
Que fui escravizada
Mas escrava: NÃO
Que as chibatadas só
Nos livros de História
Sejam lembradas
E junto também venham
Os heróis e as vitórias:
Zumbi, Dandara, Malês,
José do Patrínio, Benguela, Mahin, a glória
Que meus cabelos
Sejam inocentados
Do crime que não cometeram
Não mataram
Não roubaram
E são ruins?
Coitados...
Que nada!
São lindos, cacheados,
Crespos, pretos,
Castanhos, enrolados
Que por minha boca
Eu Jamais seja chamada
De bicuda, beiçuda
Meus lábios carnudos
Sentem a sede de justiça
Não feita com sangue
Mas de oportunidades
Gritam constantemente:
Respeito – dignidade
Saúde – dignidade
Educação – dignidade
F-A-C-U-L-D-A-D-E
Meu nariz?
Não é afilado...
Por isso é feio?
NÃO!
Ele é modelado,
Está dentro do meu
Padrão de beleza
Que você com sua frieza
Insiste em rejeitar
Minha pobre avó
De olhar agateado
Às vezes, esfomeado
Ou triste... discriminado
Sempre a olhar os pés
PRETA!
Não tinha orgulho
Deveria mirar o chão
Ensinaram-lhe que a saída
Era casar com branco
Clarear a família
Triste ilusão
Graças a meu Deus Negro
Nascemos tal qual vovó
Mas junto também nasceu
Em minha veia
Dado um nó
Algo que não se desfaz
O orgulho de ser negra
De pele e alma negra
E baixar os olhos: JAMAIS!